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Deathbots e o futuro da memória: como a IA está reescrevendo nossa forma de lembrar

Deathbots vivemos uma era em que a tecnologia não apenas grava nosso passado — ela pode recriar conversas, simular vozes, manter avatares de pessoas que partiram.


No artigo “Synthetic afterlives: Deathbots as affective infrastructures of memory”, Jenny Kidd e Eva Nieto McAvoy investigam como plataformas digitais permitem aquilo que chamam de «afterlives sintéticas», focando nos “deathbots”: avatares ou bots de IA baseados em dados pessoais e gravações de pessoas falecidas.


Arquivo de memória de um familiar falecido.
Arquivo de memória de um familiar falecido.

Neste post, vamos explorar os principais achados dessa pesquisa, as implicações para a memória, para o luto e para a ética digital — e oferecer algumas reflexões práticas para quem publica, armazena ou consome conteúdos desse tipo.


O que são deathbots e “afterlives sintéticas”?


Segundo os autores, “deathbots” são interações de avatar ou bot de IA que se baseiam em dados pessoais de alguém que morreu — gravações, postagens, mensagens, voz — e simulam uma “conversa” ou presença desse falecido.



Essas tecnologias se inserem no que se denomina “afterlives sintéticas”: plataformas que prometem manter, reanimar ou reconstruir lembranças de quem se foi.


Imagem simbólica de “memória” ou “arquivo” digital (gravações, fotos, vídeos).
Imagem simbólica de “memória” ou “arquivo” digital (gravações, fotos, vídeos).

Por exemplo, os autores analisaram quatro serviços de legado digital: Almaya, HereAfter, Séance AI e You, Only Virtual — e com eles mostraram como essas plataformas moldam práticas de memória.



Principais achados da pesquisa


Tensão memória fixa vs. reanimação constante

– As plataformas oferecem tanto um arquivo estático da pessoa falecida (fotos, voz, texto) quanto uma reconstrução algorítmica que permite “interagir” com essa pessoa em forma de bot. Isso cria uma tensão entre “preservar para sempre” e “manter vivo de forma dinâmica”.


Commodificação da lembrança


– As memórias tornam-se produto de plataformas: as empresas estruturam interações projetadas para engajar afetivamente (emoção) e consumir (serviço pago). Isso reduz a complexidade emocional, ética e epistemológica da memória ao formato de interação de plataforma.


Memória como infraestrutura afetiva


– Os deathbots atuam como “infraestruturas afetivas da memória”: meios através dos quais as lembranças são mediadas, remodeladas e entregues via algoritmos, plataformas, interface digital. Essa mediação molda como lembramos e o que lembramos.


Problemas éticos, emocionais e epistêmicos


– A pesquisa aponta que práticas de luto digital com IA levantam questões como: Quem detém os dados?

Quem decide como a “presença digital” da pessoa falecida aparece?

Qual é o impacto emocional para os vivos?

E até que ponto podemos confiar nessas reconstruções?


Um avatar de IA ou bot conversando com uma pessoa (representando “deathbot”).
Um avatar de IA ou bot conversando com uma pessoa (representando “deathbot”).


Por que isso importa?


Para famílias e pessoas em luto: Uma pessoa que perde alguém agora pode buscar manter uma “conversa” ou “presença” da pessoa através de IA — pode trazer conforto, mas também risco de prolongar ou complicar o luto.


Para privacidade, identidade e dados pós-morte: O falecido tem direitos?

Seus dados devem ser tratados como “pessoa” ou “memória”?


A legislação ainda está atrasada.

Conforme apontado em outra pesquisa, “digital afterlife industry” lida com restos digitais e direitos das pessoas falecidas.



Para a forma como lembramos: As tecnologias moldam não apenas o que lembramos, mas o modo como lembramos — e isso mexe com noções profundas de ser, memória, legado.


Para plataformas e mercado: Há um modelo comercial emergente de “legado digital como serviço”, e isso gera tensões entre lógica de mercado e dignidade humana / memória.


5 Dicas práticas para quem publica ou armazena memórias digitais


Interface de plataforma de legado digital (arquivo de memórias, gravações).
Interface de plataforma de legado digital (arquivo de memórias, gravações).

Armazenamento consciente: Antes de depositar gravações, textos ou dados de alguém para “ressuscitar” via IA, avalie o que realmente deseja preservar — e para quem será acessível.


Consentimento e clareza: Mesmo se a pessoa já faleceu, pense em quem autorizou aquela presença digital. Esclareça para usuários que esse bot ou avatar não é “a pessoa de verdade” — é uma simulação baseada em dados.


Contextualize a interação: Se você usar ou permitir um “deathbot”, acrescente contexto: “isso é uma reconstrução digital, não a pessoa original”.

Isso ajuda a evitar confusão emocional.


Limites de uso: Pense se a interação deve ser contínua ou por tempo determinado.

Um arquivo estático talvez seja menos problemático do que uma conversação infinita.


Reflita sobre o impacto emocional: Para quem interage, pode haver conforto — mas também risco de dependência ou de não conseguir efetuar o luto natural.

Considere suporte emocional e acompanhamento.


Ilustração de dados pessoais ou voz sendo convertida em IA.
Ilustração de dados pessoais ou voz sendo convertida em IA.

Conclusão


A pesquisa de Kidd & McAvoy mostra que a forma como lembramos está mudando — e não apenas por causa dos meios (digital, IA) mas pela lógica das plataformas, dos algoritmos e do mercado.

Os deathbots representam uma fronteira nova e complexa entre lembrar, interagir e comemorar.


Como sociedade, precisamos pensar com cuidado: não basta podermos recriar-digitalmente um ente querido — precisamos pensar se devemos, como e com que consequências.

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1 comentário


Bem interessante! 👏🏻

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